Procurador-geral
José Paes Neto / Foto: Antônio Leudo
Em meio a uma das mais graves crises
financeiras, o município de Campos corre o risco de ter bloqueados R$ 30
milhões pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). O valor é
referente à primeira parte de um plano de pagamento fixado pelo órgão, para
quitação de R$ 68 milhões em precatórios, dívidas judiciais herdadas de
governos passados. De acordo com o procurador-geral do município, José Paes
Neto, nos próximos dois anos, Campos terá que gastar cerca de R$ 1,5 milhão por
mês em pagamentos destas dívidas.
Precatórios são requisições expedidas
pelo Poder Judiciário para cobrar o pagamento de valores devidos após
condenações judiciais definitivas. No caso de Campos, os R$ 68 milhões se
referem, principalmente, a questões trabalhistas — processos movidos por
servidores públicos e contestações sobre valores de desapropriações de imóveis
ocorridas em administrações passadas.
De acordo com a Prefeitura, esta
dívida se acumulou porque os valores devidos não foram pagos regularmente pelas
gestões anteriores. Somente em 2016, a administração pública deveria ter pago
R$ 11 milhões, mas quitou apenas R$ 2 milhões. Quando o prefeito Rafael Diniz
(PPS) assumiu a Prefeitura de Campos, em janeiro de 2017, o valor dos
precatórios já ultrapassava R$ 60 milhões.
— Isso se tornou uma bola de neve.
Não se aproveitou o momento em que o município tinha recursos de sobra, quando
o orçamento era de R$ 2,5 bilhões. A partir do momento em que a arrecadação foi
reduzida para R$ 1,6 bilhão, a obrigação tornou-se muito grande. Somente com os
precatórios, o município terá que gastar aproximadamente R$ 1,5 milhão por mês
até o ano de 2020 — explica José Paes Neto.
Segundo o procurador, a Prefeitura
vinha negociando com o TJ uma maneira de parcelar esta dívida em mais vezes,
levando em conta a dificuldade financeira do município, mas esta negociação não
teve êxito. E o problema tende a agravar-se, diz José Paes, em razão dos
“milhões em dívidas deixados pela gestão anterior, que estão se tornando
processos judiciais e também poderão virar precatórios nos próximos anos”.
Segundo o secretário municipal de
Fazenda, Leonardo Wigand, “é outra dívida que o governo vai ter que pagar por
conta da falta de planejamento de gestões anteriores”. E acrescenta que, para
compensar dívidas herdadas, a atual gestão vem adotando medidas de austeridade,
como renegociação de contratos de serviços e imóveis e busca por parcerias com
o governo federal.
"Venda do futuro" e
Previcampos na conta
Muito antes dos precatórios, a atual
administração já havia herdado outras dívidas vultosas da administração
passada, que totalizaram R$ 2,4 bilhões. Uma delas é a chamada “Venda do
Futuro”, empréstimos contraídos junto à Caixa Econômica Federal nos anos de
2015 e 2016. Estes empréstimos comprometeram, segundo levantamento do governo
municipal, R$ 1,3 bilhão da arrecadação do município. A atual gestão tem de
arcar com o pagamento de 10% dos royalties e participações especiais, relativos
à “Venda do Futuro”. Por estes empréstimos, já foram pagos à Caixa cerca de R$
90 milhões.
Outra dívida herdada é de R$ 180
milhões junto ao Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Campos
dos Goytacazes (Previcampos). Pela dívida deixada pela gestão Rosinha, o atual
governo paga mensalmente R$ 4 milhões ao Instituto — fruto de uma negociação
que levou ao parcelamento do débito. “Isso tudo diante de quedas sucessivas na
arrecadação dos royalties. A título de comparação: em 2014, Campos recebeu R$
1,1 bilhão em royalties e participações especiais. Este valor veio diminuindo,
a ponto de, em 2017, esta quantia cair para R$ 429 milhões”, destacou o
procurador. (S.M.) (A.N.)
Folha da Manhã
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