Roberto
Jefferson ao deixar sua casa em Levy Gasparian Pablo Jacob / O Globo
RIO - Ainda em casa, escovando os dentes para
entrar no carro da Polícia Federal e seguir preso com destino ao presídio em
Niterói, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse que pretende
trabalhar durante o dia ao longo do cumprimento da pena de sete anos e 14 dias
em regime semiaberto a qual foi condenado por participação no processo do
mensalão. Em entrevista exclusiva ao GLOBO na tarde de segunda-feira, Jefferson
fez também a previsão de que, com o tempo, se acostumará com a nova rotina de
presidiário.
- Não deve ser legal, mas, com o tempo, eu vou me
acostumar. Vou procurar ficar sereno neste primeiro momento - disse o delator
do mensalão.
Na noite de domingo, a expectativa do próprio
Jefferson era de ficar no presídio da Papuda, no Distrito Federal. Em 15 de
novembro do ano passado, todos os primeiros presos no processo do mensalão se
apresentaram à Policia Federal em seus respectivos estados e, em seguida,
levados à Papuda. Ele criticou o presidente do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa:
- É a minha sentença de morte. Se é isso que ele
(Joaquim Barbosa) quer, não precisa pedir para ninguém que execute minha pena
capital. Meu prognóstico de vida foi de 10 anos. Só me restam oito anos. Ele
está colocando um fim nessa agonia - revelou Jefferson ao GLOBO, no domingo,
antes de ser expedido o mandado de prisão contra ele.
Em 2012, o petebista foi diagnosticado com um tumor
no pâncreas. A defesa de Jefferson tentou fazer com que o ex-deputado cumprisse
pena domiciliar, mas Joaquim Barbosa negou. O ex-deputado tenta autorização
para levar para a prisão cerca de 20 medicamentos que fazem parte de seu
tratamento.
Na última sexta-feira, como revelou O GLOBO,
Roberto Jefferson iniciou a campanha de arrecadação de dinheiro dentro do PTB
para pagar a multa de R$ 720 mil determinada pelo Supremo Tribunal Federal. A
filha dele, Cristiane Brasil, secretária municipal de Envelhecimento e
Qualidade de Vida no governo Eduardo Paes (PMDB), foi a primeira pessoa a doar,
mas não soube dizer quanto.
Leia a entrevista:
Como você está se sentindo neste momento?
Estou sereno. Tenho que pagar a conta para a
sociedade. Não me rebelo. O tempo vai dizer se (a prisão) é justa ou não.
Como você imagina a sua primeira noite na cadeia?
Não sei. Nem imagino. Não deve ser legal, mas, com
o tempo, eu vou me acostumar. Vou procurar ficar sereno neste primeiro momento.
Agora, você me lembrou! Não sei se posso levar toalha de banho. Vou perguntar
aqui para a Polícia Federal. O senhor é meu refúgio. Tenho fé.
Qual é a recomendação que você deixa para a sua
família?
Serenidade e não esquecer da lição de Benjamin
Disraeli, ex-primeiro ministro britânico: "Never complain, never explain”.
Ou seja: Nunca reclame, nunca explique. Serenidade e humildade. Tudo passa.
Você vai querer trabalhar? Pretende fazer o que
daqui para frente?
No momento, vou fazer o que me for ajustado. Mas
claro que quero trabalhar. No momento oportuno, vou trabalhar.
Na sua opinião, todos os envolvidos no mensalão
foram presos e condenados justamente?
Cada um deve ter a própria sentença na cabeça. Eu
tenho a minha. Mas isso é coisa de foro íntimo.
G1