Governo
do RJ pode ser o primeiro a demitir concursados para cumprir LRF
Sob o forte risco de desenquadramento
das contas frente à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o Estado do Rio pode
ter um inedistismo no corte de servidores para reduzir despesas. Nunca antes
usada no país, a demissão de funcionário público estável para cumprir a LRF é a
medida mais ousada e, se for aplicada, atingirá aqueles com menor tempo no
cargo, além de idade. Ficam fora da mira militares, magistrados e promotores e
também carreiras exclusivas de Estado, como delegados e defensores públicos.
Entre os
servidores, depois dos comissionados — que são os primeiros a serem cortados —,
o temor ronda os que estão em estágio probatório e os de carreiras
recém-criadas, como prevê a lei. Esses cargos novos, com pouco mais de três
anos — ou menos que isso —, de gestores (previdenciários, de Saúde, Finanças e
Políticas Públicas) e executivos, foram criados com objetivo de modernizar a
gestão pública. No entanto, também correm riscos de serem dispensados, já que
têm pouco tempo de existência.
Professor de
Direito Administrativo da UFF, Luiz Jungstedt acredita que o Rio caminha para
ser o primeiro estado a adotar essas medidas drásticas: “A crise é tão grande
que acho que será o primeiro ente da federação a exonerar servidor estável”.
E, neste caso, ele
lembra que a Constituição determina apenas corte de 20% de gastos com
comissionados antes de demitir os não estáveis e estáveis. Mas ressalta que é
pouco. “Caberia ao governo perceber a injustiça do fato e reorientar seus
secretários e mandar mais cargos comissionados embora, por questão de justiça,
não por imposição de lei”, afirma.
Ainda que a
situação fiscal seja calamitosa, o secretário de Gestão e Planejamento,
Francisco Caldas, afirmou à coluna que o cenário (de cortes de estágio
probatório e estáveis) está longe de acontecer. Caldas diz que as medidas —
securitização da dívida e venda da folha — lançadas pelo governador em
exercício Francisco Dornelles podem aumentar a receita e impedir o
desenquadramento.
“Estamos com
expectativa de crescimento da receita e de aquecimento da economia com a
Olimpíada e de que os agentes econômicos vão voltar a investir”, afirma.
Sobre cargos que
podem sofrer cortes, Caldas diz que é “pré-maturo” afirmar algo. No entanto,
admite que em caso de desenquadramento, o estado terá que seguir regras da lei:
“Se houver uma catástrofe, faríamos o que a lei diz. Pediríamos parecer à
Procuradoria Geral para definir o melhor critério de acordo com a lei”.
Servidores relatam medo
As carreiras de
assistente-executivo e analista-executivo, que somam 965 servidores (espalhados
nas secretarias de Educação, Meio Ambiente e Seplag), a maioria em estágio
probatório, são algumas das que correm mais riscos, pois foram recém-criadas.
Apesar de haver
professores novos, em estágio probatório, por exemplo, muitos entraram em
concurso para reposição. Então, será mais difícil haver corte desses
profissionais de Educação. Por isso, o temor dessas outras carreiras é maior.
O primeiro concurso
para executivos foi em 2012 e os funcionários têm pouco tempo de casa. Só na
Secretaria de Educação, há 741 assistentes (416 estáveis) e 38 analistas, todos
estáveis.
Jesuíno Alves, da
Associação dos Executivos Públicos do Estado do RJ, diz que a categoria está
preocupada. “Temos feito reuniões com deputados e pedindo junto à Seplag nossa
preservação”, diz ele, que complementa: “São carreiras criadas para modernizar
a gestão pública e é contrassenso dispensá-las”.
Estão nessa
situação especialistas em políticas públicas e gestão governamental (110) e
analista de Planejamento e Orçamento (49), gestores previdenciários (105), de
Saúde (28) e analista de Finanças Públicas (21).
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